A ideia desse blog, partiu de conhecer mais sobre mim mesma através da escrita. A escrita foi um osso que recolhi nesse processo. Vou te contar essa história.
Quando comecei a empreender, tentei matar a estudante que produzia artigos científicos. Quis apagar da memória o fato de não ter sido aprovada nos processos de seleção de Doutorado em Administração, o que, naquele momento, era o meu sonho, ou melhor, achava que era meu sonho. Resolvi inconscientemente, que a única maneira de não sentir aquela dor era fingindo que ela não existia e, assim, parecia mais sábio matar a pesquisadora. Como se eu tentasse apagar aquela parte da minha história.
Mas em 2021, quando descobri o Sagrado Feminino, o livro “Mulheres que correm com os lobos”, encontrei o que faltava na minha vida. Primeiro percebi que estava vivendo o sonho de um ideal sistêmico, ou seja, quebrar um padrão familiar sendo Doutora e, ainda, acreditava que precisava ser na mesma área que comecei a graduação e ser o orgulho da família. Mas e o orgulho para mim mesma, onde estava?
Então, comecei a me perguntar qual era o meu sonho? Mesmo sem influência dos outros, estava pensando na minha família e apenas conhecia que o sucesso poderia vir de trabalhar para outras pessoas. O empreendedorismo não era parte do meu dia a dia familiar.
Vou continuar, espera aí, que tem história.
Então, encontrei o caminho como empreendedora, esse é o meu sonho autêntico, a liberdade que isso proporciona, ser Mentora Terapeuta de Mulheres, mostrar o caminho para cada uma recolher os ossos que deixaram pelo caminho. Esse sim é o meu sonho.
E recolher os ossos foi o segundo aprendizado que a autora do livro Clarissa Pikolas Estés, me trouxe. A clareza de que não posso apagar a minha história, que tenho que olhar para trás, recolher coisas que me fazem bem e, a escrita é uma delas, pois produzir um blog como esse, fazer artigos científicos, é parte desse aprendizado. E com esse osso que juntei a tantos outros estou recriando minha La Loba. Mas o que é isso La Loba?
La Loba, é o conto do livro “Mulheres que correm com lobos” que nos mostra que é possível ressurgir e recriar nossa essência. E resumindo, fala-se sobre uma velha La Loba, aquela que habita em todas nós, que tem o trabalho de recolher os ossos, em cada montanha, em cada leito seco de rio, procura e reúne os ossos na sua caverna. Durante esse processo vai montando uma criatura, com formato de lobo, quando finalizado ela levanta e começa a cantar. Canta, canta, até que a loba começa a respirar e enquanto continua a cantarolar, o lobo abre os olhos e sai correndo. Nesse caminho, “o lobo de repente é transformado numa mulher que ri e corre livre na direção do horizonte”.
Imagina todas as mulheres livres, correndo em busca dos seus sonhos, sem estarem presas a estereótipos, a regras, ao “tem que”…
Então, percebi através desse conto, que nós somos responsáveis por recuperar nossas partes, sonhos, desejos, coisas que amávamos fazer e fomos deixando para trás, tentando matar um pedaço do nosso ser. Pode ter certeza que tem um feixe de ossos perdidos pela sua trilha.
Essa Mulher Selvagem, La Loba, está por aí tentando nos mostrar o quanto deixamos coisas importantes para trás, além de nos ajudar a resgatar a nossa história como mulheres, como pessoas que decidem pela nossa vida, como pessoas que não precisam se adaptar ao corpo ideal, ao emprego ideal, ao casamento ideal. Enfim, nos faz lembrar realmente a nossa natureza selvagem.
“As metáforas dessa história exemplificam o processo completo para devolver a mulher aos seus plenos sentidos selvagens instintivos. Dentro de nós, vive a velha que recolhe os ossos. Dentro de nós estão os ossos espirituais da Mulher Selvagem. Dentro de nós está o potencial de adquirir nossa carne, como a criatura que um dia fomos.”
No momento que você está lendo esse texto, La Loba está recolhendo os seus ossos. Pense o que ela está recriando? O que você deixou pelo caminho? E ainda:
Quais são os ossos que deixo para trás na minha vida?
Em que condições está o meu relacionamento com a minha essência?
Quando foi a última vez que corri livre?
Como posso fazer para minha vida ter vida?